domingo, 27 de julho de 2014

domingo, 6 de julho de 2014

Casa

Gosto de andar de comboio e observar a paisagem que vai brindando a minha passagem. Hoje, e com alguma frequência, observo as casas.  Há antigas, modernas, ultra-modernas, novas, bem conservadas, em ruinas, habitadas, abandonadas, cuidadas, a acusarem o peso do tempo, para venda.... gosto de casas e vou sonhando e imaginando que um dia também vou ter a minha casa, e como ela se vai parecer. É certo que ela não tem ainda uma forma definida, pois à medida que os meus olhos cruzam casas que me fazem sorrir, a minha futura casa muda uma vez mais de forma! 
Mas é tão curioso como eu pensava que ter uma casa, algo fixo, num único sítio, que não posso carregar, transportar ou mudar de local nunca foi o meu objectivo, mas cada vez mais dou comigo a pensar: "como será a minha casa?"

Sinto que algo mudou em mim, e que, no meu inconsciente esse lugar passou a fazer sentido!

sábado, 5 de julho de 2014

Como é que se esquece alguém que se ama?

"Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 

As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 

É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 

Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'




E eu não esqueci... parece-me que nunca irei esquecer... mas dói menos! As lágrimas foram substituídas por um sorriso ao lembrar bons momentos que partilhámos e que ficaram para sempre! Claro que continuo a sentir a tua falta, mas ao mesmo tempo sinto a tua presença e sei que continuas a fazer-me companhia! Não me sinto mais sozinha, não me sinto abandonada... sinto-me acompanhada.... 
Por isso, porque agora sei que me consegues ouvir, um beijinho de Parabéns! 
Porque sei que o vais receber com um sorriso nos lábios!
Adoro-te minha estrelinha :) 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Desculpas....

Porque sinto que temos cada vez mais as nossas prioridades invertidas, é hora de pararmos, olharmos para dentro de nós mesmos e analisarmos: "o que é o mais importante na minha vida? O que me deixa os olhos a brilhar? Um sorriso no rosto? O coração a bater mais forte? O que quero encontrar quando chego a casa do trabalho? O que quero recordar daqui a 40 anos?..." 

Tenho a certeza de que as respostas não são iguais para cada um de nós... e não creio que existam respostas certas ou erradas... existe a nossa convicção de que sabemos pelo menos qual é a nossa resposta! E temos a certeza dela?! Será? Provavelmente não... se calhar precisamos de parar, abrandar o ritmo, fazer silêncio e  escutarmos-nos... parar de encontrar desculpas e aprender a escutarmos o mais intimo de nós... e antes que seja tarde demais.... 


"amo-te tanto mas hoje tenho de levar o carro ao mecânico, as rodas fazem um barulho estranho, não deve ser nada mas é melhor prevenir, amanhã prometo que vamos ver que tal se come naquele restaurante novo junto à rotunda, e depois levo-te ao cinema, ai não que não levo, 

amo-te tanto mas hoje tenho de ver o treino do miúdo, o treinador ligou e disse-me que temos craque, o nosso menino a jogar como gente grande, vê lá tu, quando chegar com ele vê se tens prontinha aquela comida que ele adora, o puto merece, ai não que não merece,
amo-te tanto mas hoje tenho de ficar até tarde no escritório, há aquele projecto do estrangeiro para fechar, está aqui tudo perdido de nervos, não sei se aguento, daqui a pouco ligo-te para saber como vai tudo, o miúdo e as coisas aí em casa, agora tenho de ir mostrar a esta gente toda como se trabalha, ai não que não tenho, 
amo-te tanto mas hoje tenho de me deitar cedo, amanhã é aquela reunião importante de que te falei, se conseguir o cliente vamos ser tão felizes, aquela casa, o carro novo, quem sabe?, só tenho de o conseguir convencer, tenho tudo prontinho na minha cabeça e nada pode falhar, vamos ser ricos, é o que é, ai não que não vamos,
amo-te tanto mas hoje não estás, cheguei à hora combinada para te levar a jantar e tu não estás, o miúdo também não, deve estar no treino, deixa-me cá ligar, ninguém atende, nem tu nem ele, provavelmente deves estar a preparar alguma, sempre foste tão assim, cheia de surpresas, daqui a nada entras pela porta e dizes que me amas, ai não que não dizes,
amo-te tanto mas hoje tenho de assinar este papel, olho-te e peço-te perdão, prometo-te que não vai haver mais mecânicos nem treinos nem clientes estrangeiros nem reuniões entre nós, garanto-te que te quero acima de tudo, olho-te mais uma vez nos olhos e procuro acalmar o que te dói, mas tu só dizes para eu assinar e eu assino, as mãos tremem e até já uma lágrima caiu sobre elas, o nosso filho quando souber vai chorar como um menino pequeno outra vez, o nosso craque, podias ficar pelo menos pelo nosso craque, ou pelo menos por mim, para me manteres vivo, Deus me salve de não te ter comigo, sou uma impossibilidade se não te tiver para gostar, ai não que não sou,
amo-te tanto mas hoje não tenho nada para fazer, a casa escura, um silêncio vazio e nada para fazer, apenas esperar que te esqueças de mim e me voltes a amar, e eu amo-te tanto, ai não que não amo."
Pedro Chagas Freitas in "Prometo Falhar"