domingo, 29 de março de 2020

Cristóvam - Andrà Tutto Bene

“Be safe in your shelters and soon we’ll be free
One day we’ll remember the hardest of times
When distance meant love and it kept us alive”

sábado, 28 de março de 2020

A mudança começa no interior

"- Capitão, o menino está preocupado e muito inquieto devido à quarentena que o porto nos impôs.
- O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente? Não dormes o suficiente?
- Não é isso, Capitão. É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.
- E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de infectar alguém que não tem condições de aguentar a doença?
- Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.
- Pode ser, mas e se não foi inventada?
- Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me privaram de algo.
- E tu te privas ainda mais de algo.
- Está de brincadeira, comigo?
- De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.
- Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu devo privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?
- Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.
- E o que foi que tiveste de te privar?

- Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente. Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo. Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.
O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres. Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento. Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.
O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte. Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.
Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.
- Como acabou, Capitão?
- Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.
- Privaram vocês da primavera, então?
- Sim, naquele ano me privaram da primavera, e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim."
in Livro Vermelho de Carl Jung

Foi, até ao momento, o texto que melhor se relaciona com a fase em que vivemos... também nós estamos de quarentena; também nós estamos impedidos de fazer muitas das rotinas a que estávamos habituados; também nós nos sentimos privados da nossa liberdade! Mas também nós temos uma escolha. Podemos escolher olhar para a nossa realidade sob a lente do que nos foi tirado, do que não temos, ou escolher olhar sob a lente do que temos neste momento e do que podemos fazer com isso. 
Eu, tal como o capitão, tenho feito algumas alterações na minha rotina... também eu tenho alterado a minha alimentação, tenho feito exercício diário, meditação e lido algo novo todos os dias... ainda só passaram 12 dias desde que me convidei a fazer esta mudança! Não sei quanto tempo vai durar mas, tal como ele referiu, também espero que, no final desta quarentena, passem a fazer parte de mim! 

Porque não se juntam a mim neste desafio? Porque não escolher algo que gostariam de mudar e aproveitar esta altura em que estamos com os movimentos mais restritos e passamos mais tempo em casa para implementar durante 21 dias? Ler, meditar, fazer exercício físico, dançar, cozinhar mais saudável, deixar de comer carne, comer legumes todos os dias, beber mais água? Algo que sintas que pode melhorar o teu bem estar.  Um convite para nos tornarmos mais fortes física e mentalmente! 

Fotos: 1- ArtTower em Pixabay; 2-Rebekka D por Pixabay;  3- Gerd Altmann em Pixabay 

segunda-feira, 23 de março de 2020

Fiquem em casa II

Ontem mais uma vez fiquei indignada com o comportamento de muitos portugueses... fiquei zangada e revoltada com as noticias de que, mais uma vez, as marginais se encheram de pessoas que sairam para uma caminhada, que a PSP de Coimbra foi chamada a intervir porque o Choupal estava apinhado de gente! 

Numa altura em que, a única coisa que nos é pedido (ou à grande maioria de nós) é FICAR EM CASA, não compreendo esta atitude!! Não compreendo que nos coloquemos em risco, a nós e a todos os que nos rodeiam! Numa altura em que a probabilidade de contaminação é muito elevada, não compreendo que não tenhamos todos os cuidados necessários! 

Ao fim de 9 dias de confinamento social, também a mim me custa não sair, principalmente porque é difícil de fazer compreender esta situação aos meus filhos... porque eles querem sair, ir ao parque, ir aos baloiços ou, o pedido de hoje, ir à praia... e entretê-los, todos os dias, sem essas saídas, não é de todo fácil.... mas continuamos a não sair porque é, neste momento, o nosso dever, e a única coisa que podemos fazer para ajudar a combater esta pandemia! 

Contudo hoje li um texto da Mia, que me fez pensar num outro ângulo desta situação, sobre o qual ainda não tinha refletido... e percebi que aqui, tal como em tantas outras situações, sou sempre demasiado rápida a fazer julgamentos... para mim a minha casa é um porto seguro! Um lugar onde gosto de estar, onde me sinto bem, onde há amor, compreensão, respeito!! A minha casa é um abrigo... 
e para aquelas pessoas que não sentem isso?? E para aquelas pessoas em que a sua casa é um lugar de medo, um lugar onde se sentem ameaçadas, prisioneiras, onde sofrem??  Para essas pessoas, o apenas ficar em casa é muito, muito mais do que apenas ficar em casa!! 

Continuo a defender com unhas e dentes que temos de ficar em casa, o máximo possível... desafio-me apenas a tentar julgar menos os outros!!

Fotos: 1- Gerd Altmann em Pixabay; 2- Martina Kopecká em Pixabay 

sexta-feira, 20 de março de 2020

Fiquem em casa!!

Não me tem apetecido escrever... e, por esse motivo, não tenho escrito! Gosto de escrever quando tenho vontade, quando sinto que tenho algo a dizer, algo que possa ser útil ou algo que precisa de sair para fora da minha cabeça... isso não tem acontecido! Tenho pensado: tenho a cabeça demasiado desorganizada... preciso de organizar primeiro este caos interior, para depois então conseguir escrever... mas hoje dei por mim a pensar: será que tenho que organizar a cabeça para depois conseguir escrever, ou será que tenho que escrever para organizar a cabeça? A verdade é que não sei a resposta mas, mesmo com os pensamentos num turbilhão decidi sentar-me e escrever!


Há cerca de 3 semanas, quando os casos de coronavirus começaram a surgir em Portugal, sentia uma ligeira inquietação, mas sentia-me maioritariamente calma! A semana passada comecei a sentir-me um pouco revoltada... revoltada com a ausência de implementação de certas medidas que, a meu ver,  deveriam ser tomadas pelos governantes (mas quem sou eu?? O que sei eu sobre isto??... na realidade sou uma leiga em termos de saúde pública ou economia,  são apenas bitaites, e opiniões pessoais!!) mas, sobretudo, revoltada com a atitude de certas pessoas que teimavam em não levar isto a sério e a desrespeitar os concelhos dados pela DGS ou pelo Governo/Ministério da Saúde. Hoje, o cenário mudou muito. Novas medidas foram tomadas, muitas pessoas acatam os concelhos da DGS e governo e dizem que estamos a ser um "povo exemplar!" Contudo, ao ver as notícias, continuo a achar que, para vencer esta batalha, temos que fazer mais e melhor... luvas espalhadas pelo chão de várias cidades do país?? Jornais que fazem manchetes com o título "Idosa de 94 anos morre infetada pelo filho"??  Pessoas que continuam a achar que podem fazer o seu dia-a-dia normalmente, porque ficar em casa é aborrecido!? 
Sim, ficar em casa pode ser muito aborrecido, mas a outra opção pode-nos trazer muito mais aborrecimentos... no meio deste caos em que a nossa rotina/vida se transformou de forma tão repentina, não consigo deixar de pensar em como sou uma sortuda... tenho uma casa onde me posso recolher e ficar recatada com conforto! Sem passar frio, sem apanhar chuva... 

Não sei muito sobre o assunto, penso que nunca fez parte do meu currículo estudantil, mas lembro-me da minha avó me falar sobre a Pneumónica, sobre quão avassalador foi e nas marcas profundas que deixou nas famílias (muitas famílias perderam entes queridos, e a nossa não foi exceção)... agora, um século depois, estamos a viver algo, talvez, semelhante (se bem que espero que não atinja a mesma proporção) e penso que, apesar de tudo, temos muita mais sorte por viver agora e não há 100 anos... os nossos hospitais estão muito melhor equipados, as nossas casas têm muito mais conforto, temos acesso a melhores cuidados de higiene pessoal e não só, as próprias cidades são muito mais higiénicas... por isso eu tenho esperança de que, desta vez, vamos conseguir vencer a guerra com menos baixas pessoais... 

E eu, como me sinto hoje?! 
Preocupada... preocupada pela facilidade de propagação do vírus e pela facilidade de contágio.. preocupada com os meus familiares: a minha mãe que tem que continuar a trabalhar, o meu pai que teima em sair de casa, os meus avós que não só pela idade, mas pelas patologias associadas, são de risco muito elevado... um pouco mais tranquila pelo facto de a gravidade, até agora, ser menor em crianças (como evitar que as crianças levem as mãos à boca?? se souberem de algo eficaz, por favor partilhem!)... 

Sinto que estamos em guerra...uma guerra contra um inimigo silencioso...  se fossem bombas a cair do céu, ninguém duvidaria do que estávamos em guerra! Agora, perante um inimigo que chega sem ninguém dar conta, não se ouve, não se vê, como fazer com que seja real para todos??  

Ver o que se passa nos outros países não será suficiente?? 
Quando começou, em dezembro, na China! Ok... a China fica do outro lado do mundo... outro continente, outra cultura, outros costumes... demasiado longe e dificilmente chegará cá!! É um problema deles!!! 
Então e Itália??! Itália é aqui perto!! Não serão suficientes os relatos que nos chegam de lá?? As proporções que a epidemia tomou? O desespero das pessoas, principalmente dos profissionais de saúde? A falta de recursos?? 
Então e Espanha?! Espanha é aqui ao lado!! Ao dia de hoje mais de 1000 mortos... não será melhor aprender com os outros, do que vivenciarmos estas situações na pele?!

Mais vale uns dias de desconforto "presos" no conforto do nosso lar... do que a opção B!!
Por isso cuidem-se e FIQUEM EM CASA!!!! 

Fotos: 1- Notícias de Coimbra; 2- army.mil; 3- recebi a foto pelo WhatsApp, pelo que não sei identificar a fonte... utilizei-a, porque me pareceu útil neste contexto, caso não seja permitido, agradeço o contacto para efetuar a sua remoção.

domingo, 8 de março de 2020

Feliz dia da mulher

Que a mais do que prendas, tenhamos direito a respeito e a igualdade! Porque em muitos lugares do mundo isto é, ainda, uma utopia! Porque mesmo em Portugal, há poucas gerações, a realidade das mulheres era bem diferente da nossa e, apesar de termos conseguido muitas conquistas, muitas há, ainda, por alcançar. 
Muito obrigada a todas as mulheres que mudam o mundo (que acredito, que cada uma à sua maneira, todas o fazem!!), e aos homens que nos acompanham nesta demanda! 

Foto: Gerd Altmann por Pixabay 

quinta-feira, 5 de março de 2020

segunda-feira, 2 de março de 2020

Coronavírus


A preocupação é generalizada, e por isso nunca é demais ter em atenção algumas pequenas atitudes que nos podem ajudar na prevenção. Penso que é válido não só para as crianças, mas para todos nós.

6 coisas que precisamos de saber sobre o COVID-19:

Transmissão - o vírus trasmite-se através do contacto direto com gotículas respiratórias de uma pessoa infectada. Pode acontecer de duas formas:
  • diretamente: quando uma pessoa infetada que se encontra a uma curta distância de nós espirra ou tosse, e as suas gotículas respiratórias entram em contacto com os nossos olhos, nariz ou boca corremos o risco de ser contaminados;
  • indiretamente: quando uma pessoa infetada tosse ou espirra e as suas gotículas respiratórias caem sobre determinadas superfícies (mesas, cadeiras, computadores, canetas, etc...) contamina-as. Se nós tocarmos nessa superfície, o vírus pode passar para as nossas mãos (o vírus pode permanecer vivo nas superfícies durante alguns dias), e infetar-nos caso levemos as mãos contaminadas à cara, nomeadamente aos olhos, nariz ou boca.

Sintomas - os sintomas mais comuns são os de febre, tosse e falta de ar. Em casos mais severos pode ocorrer pneumonia e dificuldades respiratórias. E em casos mais raros, maioritariamente em pessoas mais idosas e com patologias pré-existentes, pode levar à morte.

Precauções - a melhor forma de prevenção assenta em boas práticas pessoais de higiene:
  • a medida mais eficaz consiste em lavar as mãos frequentemente com água e sabão (esfregar toda a superfície das mãos durante cerca de 20 segundos), ou friccionar com soluções alcoólicas desinfetantes 
  • lavar as mãos sempre antes de comer, e sempre que entrar em casa
  • evitar levar as mãos à cara
  • tapar a boca e o nariz ao tossir/espirrar, preferencialmente com o cotovelo ou com um lenço descartável, que deve ser imediatamente colocado no lixo.
Máscaras - recomendadas apenas quando existem sintomas - se não existirem sintomas as máscaras são desnecessárias (podendo até aumentar o risco de contágio, pois esta pode funcionar também como um reservatório de vírus para além de que o uso da máscara vai aumentar o número de vezes que levamos as mãos à cara para a ajeitar). Para nossa proteção a lavagem das mãos é mais importante do que o uso da máscara. Estas são úteis, caso tenhamos sintomas, para evitar contaminar as pessoas que nos rodeiam, são portanto úteis para proteger os outros! 

Gravidez - atualmente não existem evidências que nos permitam saber se o vírus é transmitido de mãe para filhos durante a gravidez, ou qual o impacto no bebé.

Medicação - até à data não existe medicação específica para prevenir ou tratar este novo coronavírus. O melhor que podemos fazer para prevenir, é praticar as medidas básicas de higiene. 

Resumindo: LAVEMOS AS MÃOS FREQUENTEMENTE!!!

Foto: iXimus por Pixabay