quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Como é que se Esquece Alguém que se Ama???

 "Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. "
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

Mas será que algum dia passa realmente????

4 comentários:

Sueli de Souza disse...

Demora mas passa,e passa quando voce menos espera depois de tanto sofrimento e um dia, sem aviso prévio, conhece se outro alguém e aí se dá conta que passou. :)

Mel* disse...

Sim... em relação a um amor que findou, penso que tem razão! Um dia, quando menos esperamos, nos damos conta de que aquela pessoa deixou de monopolizar os nossos pensamentos. E é então hora de comemorar :)

Mary disse...

Eu axo que não.... Os sentimentos mudam, há um apaziguar, mas não um esquecer....Em relação ao amor, em relação à morte, em relação ao afastamento......
Aprende-se a viver com a saudade, mas ela não vai embora... Pelo menos a saudade daqueles momentos bons que tivemos.... Ou então é apenas o meu coração que ainda não se cansou de lembrar e de sofrer... :)

Mel* disse...

Eu acho que depende... os bons momentos ficam sempre na nossa memória! A maioria com saudade de um tempo que vivemos... mas por vezes apesar de ficar o carinho, a saudade deixa de existir!! :)
Agora das pessoas que partiram realmente, das quais apenas podemos recordar, acho que ai a saudade nunca morre... fica sempre viva, uns dias mais presentes do que outros!!!!