terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A privilegiada que sou

Muitas mulheres sonham com o dia do seu casamento desde crianças, crescem a pensar nele e a idealizá-lo. Algumas sonham em ser mães, sabem desde muito cedo que "nasceram para serem mães" e anseiam esse momento. Não foi o meu caso. Não cresci a idealizar ou a sonhar com o dia do meu casamento, nem ansiava ter filhos. Não que idealizasse passar a vida sozinha, pensava em ter um companheiro, talvez constituir uma família, e quando pensava nisso dizia que gostaria de ter 3 filhos, mas sem achar que algum dia ia realmente acontecer, porque no fundo achava que o papel de mãe não tinha sido feito para mim...  até que uma amizade se transformou em amor e esse amor fez crescer o desejo de criar uma nova família e um novo ser. E aconteceu... esse amor materializou-se e gerou um novo amor, o Pedrinho! 

Mas nada neste meu percurso pela maternidade aconteceu como eu pensava que iria acontecer. Uma das coisas que não planeei foi ser mãe a tempo inteiro. Nunca me tinha passado pela cabeça não trabalhar para me dedicar à educação do meu filho. Pensava em ficar em casa com o Pedrinho nos primeiros meses, talvez 3-4 meses, mas depois voltar ao trabalho, até porque tinha começado um negócio há pouco mais de 1 ano, e não me podia dar ao luxo de não tomar conta dele... mas mais uma vez estava errada. Como contei neste post um problema nas mãos impede-me de trabalhar há mais de 15 meses e desta forma não fazia sentido colocar o Pedrinho na creche, e foi assim que deixei para segundo plano o meu papel de dentista e me transformei numa mãe a tempo inteiro. 


Há dias dei por mim a pensar como era realmente uma sortuda por poder ficar com o meu filho e não ter que o colocar numa creche ou numa ama com poucos meses de idade. Num país onde a licença de maternidade se resume a 6 meses, se partilhada por ambos os pais (quando as mães não são obrigadas a voltar mais cedo, para não colocarem o seu posto em risco), eu tive o privilegio de poder acompanhar o meu bebé durante o seu primeiro ano de vida. Costuma dizer-se que há males que vêm por bem, e foi assim que passei a encarar o meu problema... o estar impedida de trabalhar, acabou por me permitir passar tempo com o meu filho (foi este pensamento que me fez esquecer a angustia de não poder trabalhar).

Na realidade nós queremos ter filhos, mas depois não temos oportunidade de os criar, de os educar... não temos tempo para o fazer! Temos que os deixar durante todo o dia com alguém (avós, ama, creche, etc) que assume o papel que deveria ser nosso, dos pais. A sociedade evoluiu de tal forma que os pais têm muito pouco tempo para verdadeiramente serem pais!! Numa sociedade em que se trabalha cada vez mais horas no "escritório" e ainda se leva trabalho para casa, onde ficam os filhos? Após um dia inteiro de labuta, que paciência temos para os nossos filhos quando, exaustos, os vamos buscar às 18h, 19h, 20h para os levar para casa, onde ainda teremos que dar banho, comida e pôr a dormir antes que seja tarde demais, porque no dia seguinte há que madrugar de novo...  talvez nessa correria de tarefas consigamos ler uma historia ou brincar um pouco antes de dormir, se por acaso ainda restar uma centelha de energia e boa disposição. 


Somos pais de fim‑de‑semana?! Sim, talvez consigamos ser verdadeiramente pais ao fim‑de‑semana! Quando há tempo para isso... porque durante o fim‑de‑semana também há tarefas que têm que ser cumpridas, há afazeres que ninguém faz por nós e que não podemos acumular porque outra semana começa e depois tudo se complica ainda mais... talvez entre uma e outra tarefa se consigam uns minutos para uma brincadeira, e pode ser que o nosso filho fique satisfeito e nos deixe sossegados o resto do tempo... 

Não suporto pensar neste cenário... não gosto desta correria louca em que se transformou a nossa vida... não é assim que quero viver, e não é assim que quero educar o meu filho! Quero ter tempo para ele, quero ter tempo de qualidade com ele... quero acima de tudo poder criar boas memórias! Quero que um dia mais tarde ele recorde a sua infância como uma colecção de bons momentos em que eu estive verdadeiramente presente.



Bem sei que a parte económica é importante e a maioria das vezes é ela que acaba por ditar as regras, pois os encargos são sempre certos e precisamos do ordenado ao final do mês para os conseguirmos cumprir, pois se não o fizermos também não conseguimos proporcionar estabilidade e conforto...  mas não seria uma mais valia para todos se os pais pudessem ter tempo para os filhos, para os educar? Não seria um investimento a pensar num melhor futuro, numa melhor sociedade e até quem sabe mais produtiva?

Da minha parte só posso agradecer o tempo que tenho passado com o meu filho, agradecer a todas as pessoas que me têm apoiado para que isso seja possível... agradecer-lhes do fundo do coração. 

Fotos: 1 - timkraaijvanger em Pixabay / 2- geralt em Pixabay / 3 - jill111 em Pixabay 

2 comentários:

Ângela Correia disse...

Sinto o mesmo, apesar de os motivos de ter ficado em casa não terem sido os mesmos. Ter ficado sem trabalho nesta fase da vida, "foi bom", porque posso estar com o meu filho sem stress. Realmente há males que vêem por bem.

Mel* disse...

É verdade, os contratempos que nos surgiram acabaram por nos permitir usufruir um pouco mais dos nossos bebés... temos que ver o cenário pelo lado mais positivo :) E tenho a certeza de que estes tempos ficarão para sempre no lado das boas memórias :D